Criar uma Loja Virtual Grátis
Atos 21:27-36
Atos 21:27-36

Atos 21.27-36: Paulo é Preso 

 

Embora 21:18 encerre por ora as passagens conhecidas como "nós" (passagens na primeira pessoa do plural), o resto deste capítulo até o v. 29 pode ter saído da mesma fonte. Mas no v. 30 e seguintes, diz Ehrhardt que acredita poder discernir um estilo diferente e, por isso, uma fonte diferente. Julga ele ser improvável que tal fonte tenha sido um cristão de Jerusalém. É provável, então, que Lucas se tenha utilizado das notas de outro membro do círculo paulino mencionado em Atos 20:4, que esteve presente no templo por ocasião da catástrofe [que será descrita aqui]... Ora, a única pessoa qualificada para lá estar, dentre os mencionados em Atos 20:4, era Timóteo, pelo que concluímos que Atos 21:30-40 pode ter saído da pena de Timóteo" (Atos p. 109). Entretanto, a precisão do conhecimento topográfico de Lucas leva Hengel a crer que "Lucas não se limitou a transcrever uma fonte externa", mas aumentou-a, ao "puxar pelas suas próprias memórias" (p. 106).

21:27-29 / O propósito de Paulo era o de abrandar os judeus cristãos, ao ser visto na prática da lei. Todavia, os judeus da Ásia, vendo-o no templo (v. 27), provocaram a situação calamitosa que os líderes cristãos esperavam evitar. Perto do fim dos sete dias da purificação (veja a nota sobre 24:11), viram-no templo. Haviam-no visto antes na cidade, ao lado de Trófimo e, sabendo ser este um gentio efésio, concluíram que Paulo o trouxera, bem como toda a delegação gentílica (observe o plural, os gregos, v. 28) no templo, isto é, aos lugares santos onde nenhum gentio tinha permissão de entrar (v. 29; veja as notas sobre 3:2). (Esta era uma ofensa para a qual o Sinédrio recebera autorização dos romanos para aplicar a pena de morte. Veja Josefo, Guerras 6.124-128). Assim foi que esses judeus prenderam Paulo, gritaram essa acusação à multidão e acrescentaram outra, que ele por todas as partes ensina a todos a ser contra o povo, contra a lei e contra este lugar (v. 28; cp. 6:13). Sublevaram-se as emoções. Os judeus asiáticos não eram inclinados a investigações cuidadosas. Na verdade, pelo que sabemos, Trófimo nem sequer estava no templo, menos ainda no santuário santíssimo. Entretan­to, Paulo era inimigo deles. Bastava-lhes isso. Fosse como fosse, a segunda acusação constituía o cerne da questão (cp. 24:17s. quanto à versão do próprio Paulo do incidente).

21:30 / A gritaria excitou a multidão. A confusão passou a reinar. É provável que toda a cidade seja exagero de Lucas (veja a disc. sobre 9:35), mas o pátio externo do templo com efeito era o centro da cidade, e deveria estar em tumulto. Paulo teria sido agarrado e arrastado do pátio interno (como supomos) e levado ao pátio dos gentios. Parece que a intenção era matá-lo naquele momento, ali mesmo. Tão logo o povo saiu dos pátios internos, suas portas foram fechadas (pela polícia), talvez para impedir que Paulo se refugiasse no santuário, ou talvez para evitar que ficasse mais imundo ainda, visto que a multidão estava prestes a acres­centar um assassinato à alegada profanação da parte dos gentios (cp. 2 Reis 11:4-16; 2 Crônicas 24:21).

21:31-32 / Todavia, um tumulto dessa ordem não se podia sufocar sem intervenção romana. Lucas refere-se a um relato enviado ("para cima" segundo o grego) ao comandante romano (ao chefe, visto que estes eram meros auxiliares; veja a nota sobre 10:1") que descreve com vivacidade (e precisão) o que acontecera (v. 31); é que o recado chegaria a ele na torre de Antônia, que tinha vista para o templo, em seu canto a noroeste. Dois lances de escada davam acesso direto do forte de Antônia ao pátio dos gentios. Também havia uma passagem subterrânea que dava para o pátio dos israelitas (Josefo, Antigüidades 15.403-409; 18.90-95 e esp. Guerras 5.238-247). Alguns têm sugerido que o relatório teria sido enviado por cristãos. Entretanto, a expressão de Lucas sugere que se trata de um relatório oficial, talvez emitido pelas autoridades do templo, ou pelos guardas que patrulhavam os tetos. Fosse como fosse, o comandante agiu com presteza e com energia, se a referência a soldados e centuriões significa que cada oficial levou seu pelotão completo (v. 32; veja a nota sobre 10:1). O forte de Jerusalém abrigava uma corte auxiliar (quinhen­tos ou mais soldados da infantaria) e uma força de cavalaria. Como sempre acontecia durante as festas, os soldados estavam alerta, caso houvesse tumultos (Josefo, Antigüidades 20.105-112; Guerras 5.238-247). Observe de novo a precisão da descrição de Lucas: as tropas correram "para baixo" na direção do povo, pelos degraus conducentes ao templo. Tal intervenção imediata salvou a vida de Paulo, mas o apóstolo tornou-se prisioneiro pelos anos seguintes (cp. 24:27; 28:30).

21:33-34 / Ficou bem claro para o comandante que Paulo havia sido o pivô do tumulto, razão por que o prendeu, e não aos que o agrediram. As duas cadeias significam que Paulo foi acorrentado a dois soldados, um de cada lado (v. 33), e com isso cumpriu-se a profecia de Ágabo (v. 11; cp. 12:6). Naturalmente, o comandante presumiu que Paulo fosse um criminoso (cp. v. 38). Depois, tentou descobrir que crime ele havia cometido. Não está claro a quem foi que ele interrogou. Pode ter sido o próprio Paulo (mas o v. 37 parece descartar essa hipótese), ou à multidão. De qualquer maneira, Paulo não conseguiu fazer-se entender, porque a multidão gritava, "uns clamavam de uma maneira, outros de outra" (cp. 19:32). O único recurso do comandante foi levar o prisioneiro à torre e interrogá-lo ali.

21:35-36 /A medida que as tropas se retiravam degraus acima, o povo foi-se tornando cada vez mais violento, todos enraivecidos porque Paulo havia sido arrebatado de suas garras. Houve tanta violência que os soldados precisaram carregá-lo em segurança, com a multidão berrando atrás deles e clamando o tempo todo (um verbo no particípio presente, outro no imperfeito): Mata-o! da mesma forma como fizeram com Jesus nesse mesmo lugar, cerca de trinta anos antes (cp. Lucas 23:18 e João 19:15, onde os autores empregam o mesmo verbo; veja também Atos 22:22).

 

Notas Adicionais # 57

21:28 / Além disto, introduziu também... os gregos...: as conjunções gregas ligam bem o ato atribuído a Paulo, o de introduzir gentios no templo, ao ato precedente, como que para ilustrar que o apóstolo não se limitou a ensinar contra o templo, mas expressou seu ensino mediante a ação profana.