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Atos 17:1-9
Atos 17:1-9

Atos 17.1-9: Em Tessalônica

 

Saindo de Filipos, Paulo e seus companheiros viajaram para Tessalô­nica. Aqui, seguiram o padrão habitual de seu ministério, sempre que podiam encontrar uma sinagoga. Pregavam na sinagoga, de onde have­riam de sair os primeiros convertidos. Mas era da sinagoga também que saíam os mais impiedosos oponentes. Em Tessalônica os judeus nova­mente conseguiram fazer com que os missionários fossem expulsos (cp. 13:50). A história é narrada em poucas palavras. A falta de detalhes fez-nos sentir a ausência de Lucas. Ao contar-nos a história do relacio­namento dos apóstolos com a sinagoga, Lucas nos deixa a impressão de i|iic os missionários estiveram em Tessalônica durante apenas três sába­dos, mas fica bem claro pelas cartas de Paulo, que eles ali ficaram muito mais tempo — na verdade, tempo suficiente para que nessa cidade se estabelecesse uma igreja com liderança própria (1 Tessalonicenses 5:12), e para que as áreas ao redor fossem alcançadas pelo evangelho (1 Tessalonicenses 1:7); tempo bastante longo para que Paulo trabalhasse "noite e dia" para não se tornar um fardo para a igreja (1 Tessalonicenses 2:9; 2 Tessalonicenses 3:8); suficiente para que a igreja de Filipos lhe enviasse ofertas (Filipenses 4:16).

17:1 / Ao tomar a via Ignácia, para o oeste e para o sul, passaram por Anfípolis e Apolônia, aparentemente sem permanecer longo tempo nessas cidades. O comentário de que em Tessalônica havia uma sina-i;oj»a implica que nas demais cidades não havia (nunca se encontraram vestígios de sinagogas nessas cidades). Estas duas teriam sido mencio­nadas, portanto, como lugares em que os apóstolos pernoitaram; e se, em seguida, presumirmos que cada estágio da viagem, de quarenta e oito quilômetros, foi vencido em um dia de viagem, haveremos de concluir <|uc viajaram a cavalo, talvez graças à generosidade de Lídia.

Tessalônica (antigamente chamada de Terma), fora estabelecida de novo por Cassandro, que lhe deu o nome de sua esposa, filha de Filipe II da Macedônia, e meia-irmã de Alexandre o Grande. Tessalônica tornou-se a capital de uma das quatro repúblicas em que se havia dividido i Macedônia em 167 a.C, e quando estas foram reunifícadas para formar

uma província (em 148 a.C), tornou-se a capital de toda a área (veja a disc. sobre 16:12). Visto que a cidade havia-se colocado ao lado dos vencedores da batalha de Filipos, como recompensa recebeu a condição de "cidade livre", governada segundo padrões gregos em vez de roma­nos, por magistrados eleitos, e por uma assembléia de cidadãos (demos; veja a disc. sobre os vv. 5s.). Lucas se refere a cada uma das instituições da cidade e dá aos magistrados o nome correto de "poliarcas", título atestado por várias inscrições encontradas nessa área. O governador da província residia em Tessalônica, onde também se localizavam impor­tantes bases militares e navais. Nos dias de Paulo, a cidade tinha um dos maiores portos marítimos do sudeste europeu. A população estimada era de cerca de duzentos mil habitantes. Parece que a comunidade judaica era proporcionalmente grande e, com toda certeza enorme de fato, se comparada com a de Filipos, o que seria de se esperar. Numa colônia militar poucas coisas seriam capazes de atrair os judeus, mas um centro cosmopolita e comercial de tão grande porte por certo os atrairia.

17:2-3 / Os missionários deram início ao seu trabalho na sinagoga. Paulo, como tinha por costume (v. 2; cp. Lucas 4:16, quanto à mesma expressão). Ali, por três sábados discutiu com eles sobre as Escritu­ras, expondo e demonstrando sua mensagem (vv. 2, 3). Visto que Lucas já nos forneceu um exemplo da pregação paulina nas sinagogas (13:16-41), ele contenta-se com meramente dar alguns indícios da sua mensa­gem (o discurso direto deve-se talvez ao fato de Lucas estar bem familiarizado com a pregação de Paulo; não era necessário que Lucas estivesse presente para saber o conteúdo do sermão). Assim é que Lucas nos apresenta um esboço geral do método paulino de evangelização. Paulo começa com as Escrituras (lit., "das Escrituras"), mas em vez de partir para o ensino direto, como nas sinagogas do oriente, parece que ele usa o método da "discussão" (gr. dialegesthai; cp. nossa palavra "dialética") — expressão que aparece aqui em Atos pela primeira vez (cp. v. 17; 18:4, 19; 19:8, 9; 20:7, 9), e pode indicar uma mudança de estilo, ou uma reação a um ambiente diferente. "E verdade que era proclamação; não, porém, uma proclamação do tipo 'tudo ou nada'. Era proclamação acompanhada de explanação e defesa" (W. Barclay, AHG, p.166; mas veja G.Schrenk, "dialegomai", TDNT, vol. 2, p. 94). Median­te essas discussões o apóstolo conseguia "explicar" as Escrituras (lit., "abrir" as Escrituras; cp. Lucas 24:32), segundo a perspectiva cristã do apóstolo, e assim "comprovar": primeiro, que Jesus era o Cristo (veja a nota sobre 11:20); segundo, que o Cristo "tinha que sofrer" (que o Cristo padecesse), isto é, que devia morrer (veja a disc. sobre 1:16); e, terceiro, que ressurgisse dentre os mortos (v. 3). Se houve antes alguma dúvida a respeito da centralidade da morte de Jesus na pregação de Paulo (veja a disc. sobre 13:39), tal dúvida já se eliminara. O esboço faz lembrar 1 Coríntios 15:3s.; como essa passagem esclarece, esse é o evangelho pregado não apenas por Paulo, mas por todos.

17:4 / O resultado dessa pregação (como acontecia com freqüência) foi que alguns judeus foram persuadidos e creram, inclusive talvez Aristarco (veja a disc. sobre Jasom [cp. vv. 5, 7]); mas sem dúvida a melhor reação foi a que veio da parte dos gregos devotos (veja as notas sobre 6:5 e 13:14), um dos quais poderia ter sido um homem chamado Segundo (veja a disc. sobre 20:4). Entre esses devotos estavam não poucas mulheres de posição, embora o texto grego pudesse significar igualmente "esposas dos homens da liderança". Na Macedônia tanto um como o outro caso seriam possíveis (veja a nota sobre 16:13; veja também a disc. sobre 1:14; 13:50). Visto que se diz dos convertidos, ajuntaram-se com Paulo e Silas, temos aí a implicação que os missionários, por essa altura, haviam-se retirado da sinagoga e realizavam reuniões sepa­radas (veja a disc. sobre 14:27 e as notas). O verbo "ajuntar-se" significa literalmente "atribuir por sorte", e ocorre somente aqui, na voz passiva — essas poucas pessoas "foram atribuídas a Paulo e Silas [por Deus]" (veja a disc. sobre 2:47). Todavia, alguns tomam a voz passiva como sendo equivalente à voz média, "arriscaram sua sorte" com os missioná­rios. Desde o começo a igreja era predominantemente gentílica, e não demorou muito para que a grande maioria de seus membros fosse constituída de gente de origem paga, que jamais havia tido contato com uma sinagoga (cp. v. 5).

17:5 / Embora Paulo houvesse recebido permissão para falar na sinagoga somente por três sábados, suas cartas sugerem que ele e os outros companheiros permaneceram em Tessalônica muito mais tempo do que essa permissão indicaria (veja a introdução a esta seção). Na verdade, não parece que eles estivessem pensando em ir embora. No entanto, a inveja dos judeus não os deixava em paz (cp. 13:45). Os judeus haviam determinado livrar-se de Paulo e Silas, de modo que formularam um plano, o de arrastá-los perante a assembléia e acusá-los de sedição. Com o objetivo de criar alguma base para tal acusação, tomaram consigo alguns homens perversos dentre os vadios e organizaram uma súcia capaz de gerar rebelião (alvoroçaram a cidade). Tendo um palco assim montado para a perseguição bem sucedida dos dois missionários, os rebeldes, presumivelmente liderados pelos judeus, assaltando a casa de Jasom, os procuravam para entregá-los ao demos, a saber, ao povo ("à assembléia do povo", NIV, marginal).

17:6-7 / Entretanto, os planos deles deram errado. Paulo e Silas não foram encontrados e, sem eles, dificilmente os líderes da rebelião pode­riam comparecer perante a assembléia. Então, frustrados prenderam Jasom e alguns irmãos (v. 6) e levaram-nos à presença não da assem­bléia, como haviam planejado de início, mas perante as autoridades, acusando-os de dar hospitalidade a promotores de rebelião. Precisavam gritar, ao fazer a acusação, por causa do vozerio barulhento do populacho agitado. A respeito de Paulo e Silas, alegaram que têm alvoroçado o mundo (lit., "viraram o mundo de cabeça para baixo", isto é, o império romano) — grande exagero, é claro, mas que serve de indício de como eram fáceis e rápidas as comunicações entre os judeus da diáspora. Tornou-se evidente que a "primeira viagem missionária" produzira uma profunda impressão nos judeus na Ásia Menor, e tal fato foi levado ao conhecimento de seus correligionários da Macedônia. A acusação tinha dois pontos fundamentais. Paulo e Silas eram acusados de proceder contra os decretos de César — afirmação difícil de ser entendida, se é que tinha um mínimo de base, a menos que a pregação de Paulo fosse interpretada como predição de mudança de governo. Havia decretos imperiais contra profecias desse gênero — e contra quem afirmasse existir outro rei (v. 7). Era a mesma acusação que fora lançada contra Jesus (cp. Lucas 23:2; João 19:12, 15). Em nenhum desses dois casos a acusação era justa, porque o reino anunciado não era deste mundo. Todavia, para os judeus, "Cristo" significava "Rei", e visto que esse era o título dado aos imperadores nas terras a leste de Roma, os judeus podiam, com grande malícia, acusar os cristãos de estarem proclamando um rival de Cláudio. O fato de os cristãos com tanta freqüência chamarem a Jesus de "Senhor" dava maior peso à acusação.

17:8-9 / Tais acusações foram feita de público, produzindo efeitos perturbadores sobre a multidão e as autoridades (v. 8). Eram acusações sérias que exigiam tratamento sério. Todavia, depois de alguma investi­gação, as autoridades aparentemente não descobriram evidências capa­zes de convencê-las, como os acusadores haviam esperado (cp. v. 9), e os soltaram, embora impusessem algumas penalidades sobre os cristãos. Receberam fíança de Jasom e outros (com a promessa de que Paulo e Silas não mais pregariam em Tessalônica? ). Isto explicaria a repentina partida dos missionários. Em 1 Tessalonicenses 2:15, 18 temos reflexões do próprio Paulo a respeito do rumo tomado pelos acontecimentos; ele os atribui a Satanás, pela instrumentalidade dos judeus. Talvez o apóstolo não tivesse concordado com sua retirada assim, tão mansamente, não houvesse Jasom empenhado sua palavra. Como ocorrera o fato, Paulo e Silas não tinham outra opção senão partir. A retirada de Paulo não pôs um ponto final nas perturbações sofridas pelos cristãos tessalonicenses de origem gentílica. Os que ficaram na cidade foram perseguidos de tal modo que para Paulo (que evidentemente sabia de tudo) tal perseguição equiparava-se em crueldade à que os cristãos de origem judaica haviam sofrido (1TessaIonicenses 2:14;3:l-5;2 Tessalonicenses 1:6).Tampou­co a ausência de Paulo e Silas fez diminuir as calúnias dos judeus contra eles, e de modo especial contra Paulo (1 Tessalonicenses 2:13-16).

 

Notas Adicionais # 45

17:3 / Convinha que o Cristo... ressurgisse dentre os mortos: Nas pregações anteriores sempre se dizia que Deus havia ressuscitado a Jesus (cp. 2:20, 32; 3:15; 4:10; 5:30; 10:40; 13:30). Agora pela primeira vez Paulo declara que Jesus ressurgiu por sua própria vontade (mas cp. 17:31). Isto pode ser evidência de uma cristologia em desenvolvimento. Compare o possível emprego da voz média em 2 Timóteo 2:8: "Lembra-te de que Jesus Cristo... ressurgiu dentre os mortos".