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Atos 8:4-8
Atos 8:4-8

Atos 8.4-8: Filipe em Samaria 

 

A história de Lucas é feita de retalhos de acontecimentos, e vai-se desenvolvendo sempre em referência a um punhado de pessoas, isto é, o que disseram e o que fizeram. Sendo agora seu assunto a história da expansão inicial da igreja, Lucas se volta para um exemplo típico de obreiro, Filipe. Este era um dos sete, tendo sido, sem dúvida, influenciado por Estevão. Filipe fez que a igreja caminhasse dois passos importantes para a frente. Primeiramente, ele pregou aos samaritanos. O. Cullmann atribui grande importância a este episódio, achando que ele "marca o começo real da missão cristã a uma comunidade não-judaica (pp. 185-94; mas cp. Lucas 9:52ss.; 10:30ss.; 17:16; João 4:5-42). O segundo passo foi que Filipe batizou um gentio. Por causa da natureza do caso, este teve pequeno impacto sobre a igreja, mas serviu para ilustrar o tema de Lucas, visto que mediante o etíope o evangelho chegou "até os confins da terra" (1:8; cp. Irineu, Against Heresies [Contra as Heresias] 3.12.8; 4.22.2). Segundo a geografia antiga, a Etiópia era considerada a fronteira mais longínqua ao sul no mundo habitado.

Tem-se levantado a sugestão, de vez em quando, de que a história do eunuco etíope teria sido forjada com base em certas passagens vetero-testamentárias, ou pelo menos teria sido modificada à luz dessas passa­gens. Os críticos apontam para Sofonias, em particular, que na LXX menciona "Gaza" e "Asdode ao meio-dia" (LXX traz "Azoto") ou "do sul", profetas trazidos pelo Espírito, e a acolhida a homens vindos do sul (Sofonias 2:4,11s; 3:4, 10; cp. também Salmo 68:31). E de fato parece muito provável que a linguagem de Lucas teria sido colorida pela linguagem de Sofonias. Todavia, isso é o máximo que podemos adiantar. Também é bastante plausível que as coincidências da história trouxessem a profecia à mente de Lucas, e que a profecia lhe tenha dado os detalhes. É possível que Filipe tenha sido o informante de Lucas em ambas as histórias do capítulo 8, embora no caso da missão entre os samaritanos, outros houve, como Paulo, que poderiam ter-lhe fornecido todos os pormenores (cp. 15:3).

8:4 / Este versículo apanha a referência feita no versículo 1 aos crentes que estão deixando a cidade. Por onde quer que fossem, iam pregando a mensagem. Esta declaração incorpora duas palavras que caracterizam o estilo de Lucas: "anunciando a palavra", a qual encontramos apenas uma vez nos demais evangelhos, mas dez vezes em Lucas, e quinze em Atos; é uma expressão verdadeiramente missionária — "ir através" (iam por toda a parte), que Lucas emprega com muita freqüência (embora não seja expressão exclusiva dele) para descrever viagens missionárias. Graças à vantagem de poder olhar para trás, para o passado, Lucas viu que a dispersão dos crentes constituiu uma série de viagens missionárias, embora, evidentemente, na ocasião não fossem assim consideradas.

8:5-8 / A declaração genérica do versículo 8 é seguida imediatamente de um exemplo particular: Descendo Filipe à cidade de Samaria v. 5. Os melhores manuscritos têm exatamente essa redação, mas ainda que aceitemos o artigo definido "a", persiste alguma incerteza quanto a que cidade Lucas tem em vista. Sebaste era "a principal cidade" da área, mas predominantemente gentílica (cp. Cesaréia, 10:1), não sendo o centro religioso nem étnico dos samaritanos. Sicar é outra possibilidade (cp. João 4:5ss.), e Gita (de localização bastante discutida, como terra natal tradicional de Simão, o Mago) tem sido também sugerida. O ministério de Filipe é descrito muito brevemente. Primeiro, ele se centraliza na proclamação de Jesus como o Cristo (v. 5). Ficamos imaginando se esta pregação se fazia em termos do profeta parecido com Moisés, visto que era nesses termos que os samaritanos concebiam seu próprio Messias, o Taheb (veja a disc. sobre 3:22 e 7:37). Em todo o caso, a situação deveria ter sido semelhante àquela descrita em João 4:25ss., em que Filipe dá um nome àquele que o povo está esperando. Em segundo lugar, o ministério de Filipe foi marcado por exorcismos e curas. Neste aspecto, seu minis­tério seguiu o padrão apostólico (cp. 3:1 ss.; 5:16; também 6:8) e, na verdade, o padrão do ministério do próprio Senhor Jesus. Lucas, com mais freqüência do que os demais evangelistas, estabelece uma distinção clara entre doenças comuns e a possessão demoníaca (veja a nota sobre 5:16), conforme o exemplo dado nesta passagem. Das várias curas que Lucas anota, as de coxos e paralíticos aparecem com maior freqüência neste livro, sem dúvida alguma porque constituíam sinais de que a esperança messiânica estava sendo cumprida (cp. Isaías 35:3, 6). Em terceiro lugar, o ministério de Filipe redundava em alegria (veja a disc. sobre 3:8).